Storytelling: a jornada das palavras com significado
Há mais de duas décadas, o trem não cruza uma avenida importante da cidade onde eu nasci. No lugar, restou um barracão abandonado e alguns trechos de trilho que o asfalto não cobriu muito bem. Hoje, passar por ali é como transitar em qualquer avenida, mas nem sempre foi assim, especialmente para mim. Primeiro, porque dar “pulinhos” dentro do carro ao passar sob o trilho era no mínimo engraçado para uma criança ligada no 220V, depois porque esse era também um aviso de que vinha história nova por aí:
“Sabia que o Vô trabalhava na Fepasa?”
“Que legal, Vô. Como era?”
“Que?”
“Como era?”
“Ham”
“COMO ERA TRABALHAR NO TREM?”
“Não grita comigo que não sou surdo”.
Tirando o problema de audição, uma das heranças da Fepasa, contar com maestria suas memórias também passou a fazer parte da vida do meu Vô. Eu caia na risada, mas sempre acabava entretida. Ele me envolvia com a sua emoção e eu conseguia imaginar sua roupa, como andava entre os vagões, pegava bilhetes e até acionava o apito do trem como nos desenhos animados. Grande parte das imagens que surgiam na minha cabeça eram fantasia, mas se a ideia era transmitir um sentimento, ele cumpria bem sua missão: eu sempre embarcava em suas histórias. Até hoje, é impossível passar naquela avenida e não recordar a sua imagem.
Ele impregnou aquele lugar de significado.
Vou pegar carona no “trem do meu avô” para falar sobre o poder de uma boa história. Aquela que faz você ter a sensação de já ter vivido ou se sensibilizar como se soubesse exatamente o que o narrador está sentindo. Você já leu algo assim? Sabe dizer o que te fez embarcar?
Se você trabalha com conteúdo, provavelmente já ouviu falar sobre storytelling. O termo em inglês é definido como a técnica de contar histórias, mas não qualquer narrativa, geralmente ele está associado à capacidade de contar boas histórias, ou seja, torná-la relevante para o interlocutor. A prática do storytelling se aplica em diferentes áreas, da educação ao marketing, e faz cada vez mais sentido, especialmente em uma realidade repleta de informações “pipocando” de todos os lados.
Mas, afinal, como contar uma boa história e despertar o interesse do seu público?
O primeiro ponto é entender que existe uma diferença grande entre despejar informações e convidar o espectador a participar da “conversa”. Ou seja, listar acontecimentos é uma coisa, permitir que o interlocutor se sinta parte deles é outra bem diferente.
Depois, é preciso também considerar quem é o público com quem você está falando. Como ele se conecta com essa história? O que faz sentido para ele mesmo que ele ainda não saiba?
Um bom contador de histórias é capaz de fazer alguém “reconhecer” algo que até ontem nem sabia que existia.
Geralmente, essa percepção acontece porque existe ali uma identificação ou foi despertada alguma emoção. Ele não está apenas lendo ou ouvindo, mas sentindo uma transformação.
Não existe receita, mas boas práticas, sim!
Para contar uma boa história é preciso antes entender do que ela é composta, no caso, personagem, ambiente, conflito e mensagem. O personagem é quem vai vivenciar uma jornada e você precisará conduzi-lo de um lado a outro. O ambiente mostrará onde e quando essa história acontece e o conflito servirá para dar vida e gerar resultado na jornada do personagem. Por fim, a mensagem deverá amarrar todas essas pontas e trazer o sentido para tudo que acabou de acontecer.
Sim, seria maravilhoso se existisse um manual de instrução, mas a realidade é que você terá que encontrar o melhor caminho para aquela que você deseja contar. A boa notícia é que existem algumas dicas que podem ajudar. Conheça algumas:
É importante destacar que essa é só uma primeira reflexão, o universo de possibilidades é imenso quando o assunto é storytelling. Sim, outros posts virão! O mais importante é avaliar o que faz sentido para o seu público e ter clara a mensagem que deseja passar.
Enquanto a gente não segue a prosa, deixo aqui o método de uma gigante para te inspirar, o da Pixar.
E ah, só para constar: te amo muito, Vô Mané. Você é parte das minhas melhores histórias.
Escrito por FERNANDA GAONA
Escolhi o jornalismo porque gostava de escrever, descobri na faculdade que minha praia era mesmo a fotografia e por um alinhamento de planetas (ou vontade de experimentar) fui parar na área de educação. Escrevo para não engasgar. Fotografo para me inspirar. Respiro novas formas de aprender para ressignificar. Ou você achou que essas voltas na carreira eram só por puro capricho?